quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

SAPATO DE SALTO ALTO


Será tão ruim ser você mesmo, fazer as coisas que ama, poder tomar suas próprias decisões sem os palpites alheios? Será possível  retornar a infância, aquele de pés descalços e as mãos na lama, onde tudo era perfeito, no qual a única preocupação era lavar as mãos no horário das refeições. 
Falaram pra ela que o mundo mudaria em alguns anos, que ela não poderia mais andar  com os pés descalços, e a menina não ouviu, ingênua não quis compreender a ideia da mudança, o motivo de usar sapatos, sapatos bonitos e altos.
E assim o fez, continuou a andar com os pés nos chão, suas amigas, colegas sempre com os pés nas alturas, talvez trocando os pés pelas mãos, deixando-os mais altos, mais vulneráveis talvez! 
As contradições começaram a fazer parte do seu mundo, e a menina começou a usar salto alto, começou com o mais alto e assim o mais vulnerável. Sem cuidado, em cada sapato o salto era mais alto, até que o vento bateu e a menina derrubou, deixando-a no chão. 
A menina machucada se levantou, e caminhou em todos os lugares que passava de salto alto, e começou a reparar nos lugares com mais precisão, mais detalhadamente, pensou várias vezes em subir de novo no salto, mas com medo de se machucar, preferiu a andar descalça como sempre foi, como foi sempre seu desejo!
Seu desejo insaciável por liberdade durou, durou muito tempo, tempo demais. Até que lhe apresentaram um sapato preto e caro, um sapato que deu uma estabilidade a ela, lhe deu segurança e assim os colocou nos pés, um sapato que lhe caiu tão bem, o melhor sapato de todos que já tinha experimentado antes, e o medo de se machucar se foi, mas o medo do salto se quebrar começou e este não tem fim.